sábado, 31 de agosto de 2019

Barata Cichetto - Gyroscópio 69 - Programa 04

Barata Cichetto - Gyroscópio 69 - Programa 04 

Os destaques do programa são dois pequenos especiais: um com a banda paulista Crom, incluindo "The Vikings Are Coming", letra minha, e  as três músicas mais impactantes de Raul Seixas e um poema inédito decicado a ele que compus em 21 de Agosto.
E ainda: Patrulha e Perdidos no Espaço, aforismos de Barata na voz do ator João Ângello Vieira e a poesia de Álvares de Azevedo.
Além, é claro, do Rock de Coven, Curved Air, Cowboy Junkies, Alice Cooper, Joe Cocker, Lucifers Friend, Liquid Jesus, Lisker, e um Iron Maiden que não é Iron Maiden. E encerrando com a voz Zensual de Cris Boka de Morango lendo Barata Cichetto ao som de Lou Reed, e Natalie Mechand.
Domingo - 01/09/2019 - 20:00h.
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sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Gyroscópio 69 - Programa 4 - Crom

Gyroscópio 69 - Programa 4 - Crom

Próximo domingo, dia 1 de Setembro, as 20:00, no Gyroscópio 69, estarei tocando três faixas da banda Crom, incluindo "The Vikings Are Coming", letra original minha.

Formada em 1992, a CROM, marcou seu nome na cena do Heavy Metal nacional nos anos noventa, com um começo meteórico e um ano após sua criação, lançou seu primeiro registro, a Demo ‘The Hate Of World’, trabalho que rendeu elogios e status ao grupo, além de várias apresentações memoráveis. Mesmo com este resultado positivo a banda não resistiu e em 1997 encerrou suas atividades. Atividades que ficaram paradas por exatos vinte anos, até sua reativação em 2014 com uma nova – e sólida – formação contando com músicos que já passaram pela banda e novos talentos.

Robson Luiz - Vocal/Vocals
Fabio Nunes - Baixo/Bass
Claudivam F. da Silva - Bateria/Drums
Altemar Lima - Guitarra /Guitar
Pedro Luiz MArcondes - Guitarra /Guitar

Fanpage da Crom: https://www.facebook.com/pg/crombrazil/

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quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Raul Seixas no Gyroscópio 69


Raul Seixas não era de direita, nem de esquerda, era raulseixista, coisa que ninguém mais no mundo é, já que é um partido, religião ou o que mais queiram, que só admite um, o próprio. Colocar Raul dentro dessa roda de merda política é ser no mínimo desonesto com o próprio, e mais ainda consigo mesmo. Pessoas que fazem isso são meros usurpadores da memória de RS, e sequer suas letras e postura entenderam. Acham que comemorar a existência dele é sair por aí enchendo a cara de vinho barato e arranhar Maluco Beleza em roda de violão e fogueira. Não, não é. Agora, "se você acha o que eu digo fascista, mista ciclista ou anti-socialista, eu admito: você tá pista."

No próximo domingo, no Gyroscópio 69, estarei falando um pouco e tocando as três músicas que mais me impactaram na obra de Raul Seixas, e apresentando um poema que escrevi dia 21 de Agosto.

sábado, 24 de agosto de 2019

Gyroscópio 69 - Programa 03 - 25/08/2019

Gyroscópio 69 - Programa 03 - 25/08/2019

Abertura:
Lejão Sampaio - 1. Clichê
- Release Lejão

Mario Quintana - Os Robos Totalitários (Narração Roberto Mallet)
Roberto Piva - Parkinson
T Rex - Children Of The Revolution
Roberto Piva - Agua Benta
Manfred Mann's Earth Band - Spirits in the Night
Aforismos Barata (Narração João Angello)  - Sim e Não

(Poesia) Barata Cichetto - O Grito da Caverna
(Alan Flexa - Olho Raz)
Roberto Piva - Poesia Neo Pagã
Rufus Zuphall - Spanferkel
Roberto Piva - Anarcomonarquico
Wucan - Franis Vikarma (Live Rockpalast 2016)
Aforismos Barata (Narração João Angello) - Artistas Idiotas

Ales Menon 1
As Mil Faces de Ales
Ales Menon 2

(Poesia) - Francisca Julia - Adamah (Narração Roberto Mallet)
Roberto Piva - Prazer
Supertramp - Sister Moonshine
Roberto Piva - Inconformidade
Scorpions - Lonesome Crow
Roberto Piva - Experiência Continua
Motörhead - 1916
Aforismos Barata (Narração João Angello)  - Inverno Visão

(Poesia) Barata Cichetto - Uma Punheta Para Patti Smith . Narração Cris Boka de Morango
(Patti Smith - Because The Night)
Roberto Piva - Reescrever Poesia
Status Quo - Bye Bye Johnny
Roberto Piva - Subtitulo
Slade - Get Down With It
Roberto Piva - Salvador Dali
Lou Reed - How Do You Think It Feels
Aforismos Barata (Narração João Angello) - Crença e Aposta

Del Wendell - Sobre Elvis Cantando Johnny B Good
(Elvis Presley - Johnny B Good)

Encerramento
Lejão Sampaio - 3. Deja Vu
Ales Menon 3

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As Mil Faces de Ales
Barata Cichetto
"- 'A boca úmida eu tenho e trago em mim a ciência / De no fundo de um leito afogar a consciência. / As lágrimas eu seco em meios seios triunfantes, / E os velhos faço rir com o riso dos infantes. '" - "As Metamorfoses do Vampiro" - Charles Baudelaire, França, 1861

Queria ter a coragem de apenas uma das tuas faces,
Assim eu não teria desistido dos Gatos e das Alfaces.
A poesia que brota de apenas um de teus mil lábios,
E assim seria tão belo quanto aos lobos e aos sábios.

Ah, eu queria tanto conhecer todas as faces de Ales,
E assim, quem dera assim, enxergar os meus males.
São mil faces, mil rostos, mas apenas uma realidade,
E todas são belas, mesmo quando falam de maldade.

Queria conhecer cada uma das tuas mil guerreiras,
Um exército indestrutível marchando pelas fileiras.
Rasgando as roupas finas e bordadas do imperador,
E exibindo a nudez cruel que veste qualquer ditador.

Ah, queria tanto ter coragem de amar qualquer uma,
Entre as mil, a que pudesse ser a outra ou nenhuma.
Mil faces e mais duas, um desejo ou mais de dois mil,
E eu que não consigo me olhar no espelho sem ser vil.

Ales tem mil faces e nenhuma delas usa maquiagem,
Todas foram pintadas à semelhança de sua imagem.
A libertina liberta do papel todas suas almas sadistas,
E todas são belas, todas são poetas, todas são artistas.

Ah, e eu feito um pobre Baudelaire pouco requintado,
Colocaria todas tuas personas num bordel encantado.
E as amaria além de como se ama a abóboda noturna,
No universo dos seus versos, minha "grande taciturna.".

Li sobre ti antes mesmo de conhecer tuas mil Lucrécia,
Nos livros dos poetas embalsamados da antiga Grécia.
Predestinado ao caminho dos tolos feito escravo liberto,
Segui escrevendo errado em um tempo que era incerto.

Espero que não me queiram por meus versos apedrejar,
Mas que o faça sem desprezo, alguma que assim desejar.
E que feito a lua ofendida, não me privem da sua alcova,
Antes do final, ou que da vulva temporal também chova.

05/08/2019

sábado, 17 de agosto de 2019

Gyroscopio 69 - Programa 02 - 18/08/2019

Gyroscopio 69 - Programa 02 - 18/08/2019

Vinhetas Programas Antigas
Abertura SS Faustão Fantastico 2019
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Abertura:
Foghat - Honey Hush
Zé Béttio
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Bloco 01 -
(Poesia) - Fernando Pessoa - Poema em Linha Reta (Osmar Prado)
Bob Dylan - One More Cup Of Coffee (Live 1975 )
Cowboy Junkies - Sweet Jane
Cinema Cego - Batman 2 - Cena do Interrogatorio
Cigarros California
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Poema em Linha Reta
Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa)

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Ó principes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
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Bloco 2 -
Roberto Piva - Profetico 1987
Imperial (Eterna Faixa 1 -  Pele Sintética - CASSETE
Blues Riders - O Domador de Tempestades
Cinema Cego - Clube da Luta
Cigarros Continental
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Imperial - Pele Sintética

O sol rasga o meu rosto
com os dentes da loucura
e eu sinto nossa vida
tão pulsante e quente
quanto pele sintética

Estamos num trem cheio de víboras
vagando à beira do abismo
e seus olhos estreitos brilham
quase tanto quanto seu passado

Assim as montanhas somem
assim nos separamos
e não esconda o rosto
enquanto nossas coisas viram pó

A chuva bate no meu rosto
gelada como o beijo de um lagarto
e eu sinto sua tempestade
e eu sinto sua pele

Nas cidades onde mora a fome
todos gozam a inanição
com os olhos satisfeitos.
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Blues Riders - O Domador de Tempestades

Ia em desespero e em torrentes,
Correndo rumo ao insuportável
O vendaval dos meus tormentos
No frio duma noite interminável

Muito tempo me teve a solidão
Agora o silêncio foi abandonado
E devastador a passos largos
Como por rio, arrastado

Senhoras e senhores
Respeitável público presente
Eu trago a tempestade nos meus braços
E uma faca presa nos meus dentes

Senhoras e senhores
Respeitável público presente
Trago raios pra curar o seu riso
E sobre vocês, eu lançarei granizo

Corre meu amor em torrentes,
Correndo rumo ao insuperável
Um vendaval nos meus desejos
Na luz dum dia interminável

E como rio que salta no infinito
E deixa no fundo a solidão afogada
Palavras nos vales de minh’alma
Deixando a voz embargada
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Bloco 3 -
(Poesia) - Barata Cichetto - O Século XXI Lhe Deu Razão
Lemmy  Wendy OWilliams - Jailbait (HD)
Motörhead (Featuring Wendy O.Williams) - No Class (Live At Birthday Party 85)
Cinema Cego - Matrix Sistema
Cigarros Ela
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Barata Cichetto - O Século XXI Lhe Deu Razão

O século XXI lhe deu razão; com seus coletivos egoístas, e seus egoístas coletivos; seus seletivos anarquistas, e seus anarquistas seletivos; seus computadores baratos, e seus celulares caros; seus ditadores de esmola, e seus educadores sem escola; seu analfabetismo político, e seus políticos analfabetos; suas mulheres plastificadas, e seus machos simplificados; suas crianças fascistas, e seus bebês tecnológicos; sua fome gourmetizada, e sua violência glamourizada.
O século XXI lhe deu razão, com seu excesso de tesão, e sua falta de desejo; seus pode-tudo, e seus nada-pode; sua moral ressentida, e sua imoralidade consentida; seu fanatismo ideológico, e seu onanismo lógico; seus ódios escarrados, e seus ócios cuspidos; seus cupidos tecnológicos, seus bêbados ideológicos; seus zoológicos humanos, e seus humanos lógicos; seus cérebros de silício, e suas alças de silicone; seus drones, e suas câmeras de seguranças.
O século XXI lhe deu toda a razão, com seus idiotas poéticos, e seus poetas agiotas; suas águas coloridas, e seus filmes sem enredos; seus medos de tudo, e seus segredos de nada; seus escritores de Twitter, seus pensadores de Whatsapp; seus filósofos de Instagram, e seus Youtubers; suas hashtags, e seus emoticons; seus notebooks, seus facebooks, e seus smartphones.
O século XXI lhe deu razão, com sua morbidez feérica, e sua rapidez cadavérica; seus quinze minutos de fama, e seus dois minutos de cama; suas cobras de isopor, e seus lagartos de papel; sua falta de poesia, e sua afasia; seu progresso sem ordem, e sua desordem ordenada; sua devassidão clériga, e sua imensidão estreita; seus rocks sem roll; seu futebol sem gol, e seus blues sem cor.
O século XXI que lhe deu razão, com suas palavras ressignificadas, suas mulheres empoderadas, e suas tolices toleradas; suas intolerâncias generalizadas, e suas prepotências potencializadas; suas cotas de felicidade, suas botas de faculdade, e suas roupas de facilidade; sua pornografia sem tesão, e sua pornográfica razão; seu politicamente correto, e sua política incorreta; seu pensamento engessado, e sua burrice premiada.
E o século XXII também lhe dará razão, Roberto Piva.
- Barata Cichetto, do século passado, no século presente; e sem futuro.
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Bloco 4 -
(Poesia) Thin Lizzy - Sitamoia (*)
Peter And Gordon e Raul Seixas - Willow Garden # A Beira do Pantanal
Flávio Cavalcanti - Nossos Comerciais Por Favor
Cinema Cego - Sin City
Cigarros Hollywood 1985
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 (*)
Barata, Anjo Ou Demônio
Barata Cichetto

Quando Quero Sou Anjo,
Quando Desejo Sou Demônio.
Quando Não Quero Nem Desejo,
Barata!
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Sitamoia
Sitamoia
Sitamoia
Gidda gadda aga (?)
Sitamoia
Gidda gadda aga (?)
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Barata Cichetto - A Felicidade da Dor

1 -
Quanto a mim, prefiro sempre a Dor sincera á uma Felicidade piedosa
Pois a Dor é sempre verdadeira e a Felicidade sempre uma mentirosa.
Oh Felicidade, antônimo da Dor, madrasta cruel da efêmera tal Liberdade
Melhor portanto a fisiologia real da Dor que a falsa filosofia da Felicidade.

Chega até mim agora a Dor com sua nudez virginal, imaculada e nova
Enquanto esperas a Felicidade, uma velha prostituta que a Dor reprova
Busques aquilo que mereces, a enganação em uma mitológica mentira
Pois a Felicidade, pobre religioso ungüento, da sua vida a verdade retira.

Mascarada quando chega e trajada de uma falsa alegria, ilusão do instante
A Felicidade, irmã bastarda da Liberdade é momento, irreal e inconstante
Prefiro pois a Dor nua e real, Deusa da Criação, santa protetora da Poesia
A Imaculada Virgem dos Lábios Sangrentos e das lágrimas sem hipocrisia.

2 -
Dor nossa que estás no peito, santificada seja o seu nome e o seu conceito
Venha a nós o vosso Reino e vossa Verdade em qualquer estado de direito
E seja feita a vossa vontade assim no Céu como no Inferno ao tempo certo.

Oh, Dor nossa de cada dia, perdoai aos arautos da Felicidade que mentem
Assim como nós perdoamos àqueles que não entendem a Dor que sentem
E não deixes cair na tentação da falsa Felicidade e levai-nos à Dor e além!
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Sitamoia
Sitamoia
Sitamoia
Gidda gadda aga (?)
Sitamoia
Gidda gadda aga (?)
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- Eu não sou o que eu escrevo, mas escrevo o que eu sou.
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Bloco 5 -
Barata Cichetto - Concerto Para Máquina de Escrever e Disco Riscado - Grand Finale
The Lachy Doley Group - A Woman - Live at Lizottes - March 6 2019
Edgar Winter - Frankenstein
Cigarros Marlboro 1982
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Bloco 6 -
Zé do Caixão - O Corvo
Omnia - The Raven
Cigarros Lord
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O Corvo - Tradução: Edson Negromonte (1998 - Brasil) Interpretação: Zé do Caixão

Monotonia da meia-noite; meditava, cansado, a ler
No caro e curioso Volume de Arcana Sabedoria —
Cochilando, quase sono; súbito, de leve batendo,
Alguém gentilmente chamando, chamando à minha porta,
"É visita", resmunguei, "batendo à minha porta:
Somente isso e nada mais."

Ah, nitidamente me lembro daquele gélido Dezembro
E as brasas em agonia forjavam fantasmas no assoalho.
Ansioso pela manhã, foi em vão o consolo do canto
Dos livros pra parar o pranto — pranto por lembrar Lenora,
Rara e radiante mulher que os anjos nomeiam Lenora:
Inominável mais e mais.

E o surdo incerto sussurro de seda da cortina púrpura
Estremeceu-me — encheu-me de fantásticos terrores;
Fiz a frase para acalmar as batidas do coração
E repeti: "É um visitante pedindo entrada à minha porta:
Sim, é isso e nada mais."

Logo minha alma fez-se forte; sem hesitar por muito tempo,
"Senhor," disse, "ou Senhora, suplico seu perdão, imploro;
Mas, de fato, estava dormindo, você gentilmente batendo,
E assim fracamente chamando, chamando à minha porta,
Difícil, incerto ter ouvido" — aqui, escancarei a porta —
Escuridão, nada mais.

Âmago da escuridão perscrutando, ali sondando,
Sonhando sonhos que nenhum mortal ousou jamais sonhar;
Na quietude que tudo toca, silêncio contínuo inquebrável,
E o único som que se ouviu foi num sussurro "Lenora!",
Sussurrei, e ecoou num murmúrio e retornou sem cor "Lenora":
Mera lei e nada mais.

De volta ao quarto retornando, por dentro a alma queimando,
Logo ouvi de novo chamando, pouco mais alto, deve ser.
"Com certeza," falei, "por certo, há alguma coisa na janela;
Vou ver de que se trata então e o mistério esclarecer —
Deixo o coração sossegar e o mistério esclarecer:
É só o vento e nada mais."

Com grande tranco destranquei a janela, e, filho da fúria,
Embarafustou-se altivo o Corvo dos dias de outrora.
Nem a menor mesura fez; nem um minuto se deteve;
Porte de senhor ou senhora, empoleirou-se na porta,
Empoleirou-se no busto de Palas no alto da porta:
Justo ali e nada mais.

Um bardo de ébano burlando-me da doce fantasia, e sorrindo
Ante o grave e austero decoro e compostura —
"Apesar da crista raspada rente, tu és seguro e crente,
Horrível, venerável Corvo errante nos ermos da noite:
Diga, então, teu nobre nome é dos ermos de Plutão?"
Grave o Corvo, "Nuncamais."

Espantou-me a deselegante ave, ao ouvir-lhe replicante,
Apesar de reticente — resposta pouco pertinente;
E há de concordar conivente, nunca nenhum ser vivente
Jamais foi abençoado com pássaro vidente sobre sua porta,
Bardo ou besta sobre o busto esculpido sobre a porta,
Com tal nome "Nuncamais."

Cavo corvo encravado justo ali no plácido busto,
Toda sua alma nesta palavra, era uma forma de florão.
E nada além disso ele disse, doloroso dorso do riso;
E não mais que num murmúrio — "Amigos, todos se foram;
À aurora ele também irá, assim como todos se foram."
O bardo bradou, "Nuncamais."

Assalto ao silêncio por réplica, resposta, de pronta ciência,
"Sem dúvida, o que repete é só a refração de um refrão,
Conversa de mestre infeliz em desesperada desgraça
A vociferar feroz sua breve e brusca canção:
Endecha a irromper em bruna e breve e brusca canção
Nesse 'Nunca — nuncamais.'"

Foi o corvo burlando-me de toda triste fantasia;
Sorrindo trouxe um coxim e sentei ali em frente ao bardo,
Ao busto, à porta; no veludo afundando, fui religando
Fatos, fantasia, buscando se o ominoso bardo de outrora,
Se o deselegante, lúgubre e ominoso bardo de outrora
Só crocita "Nuncamais."

Ocupado conjeturando, nenhuma sílaba exprimindo
À ave dos olhos de fogo; no meu peito ainda a queimar;
Assim sentado adivinhando, a cabeça logo reclinando
Na almofada de veludo, à luz do lampião a volutear,
De veludo violeta, à luz do lampião a volutear,
Era ela, ah, nunca mais!

Tocou-me, então, um ar frio e denso, e, um intraduzível incenso,
E um frágil e fresco serafim, acima do assoalho, revoa.
"Desgraçado," gritei, "por fim, Deus deu-te alento — recebes
Repouso — repouso e nepente às tuas lembranças de Lenora!
Prova, oh prova o doce nepente, e olvida a lívida Lenora!"
Aprovou o Corvo, "Nuncamais."

"Profeta!", falei, "ser odiado — ainda profeta, bardo ou diabo!
Que tentador ou tempestade lançaram-te a este lodo,
Desolação que tudo dana, terra deserta de encantos —
Retiro onde ruínas rondam — diga a verdade, imploro:
Há o bálsamo de Galaade? Há? — diga — diga, eu imploro!"
Cortou o Corvo, "Nuncamais."

"Profeta!" falei, "ser odiado — ainda profeta, bardo ou diabo!
Pelos céus suspensos ao longe, pelo Deus que ambos adoramos,
Fala à minha alma que, sem calma, reclama, lá no distante Éden
Aplacar a saudade daquela que anjos nomeiam Lenora:
Rara e radiante mulher que anjos nomeiam Lenora!"
Cortou o Corvo, "Nuncamais."

"É uma ordem, signo, vai-te!, vate das profundas!," estridente,
"Volta à tempestade," entre dentes, "aos ermos noturnos de Plutão!
Leva os truques que me distraíram, leva o azar de tua asa, só farsa!
Deixa-me à solidão que enlaça! Deixa o busto sobre a porta!"
Cortou o Corvo, "Nuncamais."

E o Corvo, curvado, nem aflito, está sentado, está sentado
No pálido busto de Palas justo sobre minha porta;
E seus olhos semelhantes aos de um demônio a dormir,
E a luz do lampião tremulando, traduz sua sombra no assoalho:
E minha alma já sem flama, da sombra flutuando no assoalho
Livrar-se-á — nuncamais!
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Encerramento
Rush - In The End
(Poesia Incidental: Barata - Seres Vivos)

Já pensaram
Que as palavras também são seres vivos?
E, portanto também suscetíveis à angústia?
E que angustiadas,
As palavras se transformam em Poesia?!

Gil Gomes Lhes Diz
Gyroscopio - Abertura 2019
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BG - Emerson Lake And Palmer - 1971 - Tarkus (1987)

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Depois de dois anos retorno ao webradio, através da AS Brazil, do amigo Wladimir de Paula. Como sempre, muito Rock, Poesia e ... Tosse. As 8 da noite. Espero você por lá.

Acesse: https://advertisingstage.com/ ou o aplicativo da ASC Brasil: https://play.google.com/store/apps/details?id=br.com.centermidia.asbrazil

domingo, 11 de agosto de 2019

Gyroscopio 69 - Programa 01 - 11/08/2019

Gyroscopio 69 - Programa 01
11/08/2019

Coração Materno - Vicente Celestino
Focus - House Of The King
Lou Reed - Vicious
Belchior - Alucinação
Black Sabbath - The Wizard
Uriah Heep - Lady In Black
Raul Seixas - Eu Sou Egoista
King Crimson - Epitaph
Led Zeppelin - Dazed And Confused
David Bowie - My Death (Live at the Hammersmith Odeon -  03/07/1973)
Rush - The Anarchist
Patrulha do Espaço - Robot
Psychotic Eyes - Olhos Vermelhos

BG - Tangerine Dream - Cyclone (1978)

Barata Cichetto - Gyroscopio69 - 01 - 11082019 - ASBrazil

Coração Materno
Vicente Celestino

Disse um campônio à sua amada:
"Minha idolatrada, diga o que quer
Por ti vou matar, vou roubar
Embora tristezas me causes mulher
Provar quero eu que te quero
Venero teus olhos, teu porte, teu ser
Mas diga, tua ordem espero
Por ti não importa matar ou morrer"
E ela disse ao campônio, a brincar
"Se é verdade tua louca paixão
Parte já e pra mim vá buscar
De tua mãe, inteiro o coração"
E a correr o campônio partiu
Como um raio na estrada sumiu
E sua amada qual louca ficou
A chorar na estrada tombou

Chega à choupana o campônio
Encontra a mãezinha ajoelhada a rezar
Rasga-lhe o peito o demônio
Tombando a velhinha aos pés do altar
Tira do peito sangrando
Da velha mãezinha o pobre coração
E volta a correr proclamando
"Vitória, vitória, tem minha paixão"
Mas em meio da estrada caiu
E na queda uma perna partiu
E à distância saltou-lhe da mão
Sobre a terra o pobre coração
Nesse instante uma voz ecoou:
"Magoou-se, pobre filho meu?
Vem buscar-me filho, aqui estou,
Vem buscar-me que ainda sou teu!"

Alucinação
Belchior

Eu não estou interessado
Em nenhuma teoria
Em nenhuma fantasia
Nem no algo mais
Nem em tinta pro meu rosto
Ou oba oba, ou melodia
Para acompanhar bocejos
Sonhos matinais

Eu não estou interessado
Em nenhuma teoria
Nem nessas coisas do oriente
Romances astrais
A minha alucinação
É suportar o dia-a-dia
E meu delírio
É a experiência
Com coisas reais

Um preto, um pobre
Uma estudante
Uma mulher sozinha
Blue jeans e motocicletas
Pessoas cinzas normais
Garotas dentro da noite
Revólver: cheira cachorro
Os humilhados do parque
Com os seus jornais

Carneiros, mesa, trabalho
Meu corpo que cai do oitavo andar
E a solidão das pessoas
Dessas capitais
A violência da noite
O movimento do tráfego
Um rapaz delicado e alegre
Que canta e requebra
É demais!

Cravos, espinhas no rosto
Rock, Hot Dog
Play it cool, baby
Doze Jovens Coloridos
Dois Policiais
Cumprindo o seu duro dever
E defendendo o seu amor
E nossa vida
Cumprindo o seu duro dever
E defendendo o seu amor
E nossa vida

Mas eu não estou interessado
Em nenhuma teoria
Em nenhuma fantasia
Nem no algo mais
Longe o profeta do terror
Que a laranja mecânica anuncia
Amar e mudar as coisas
Me interessa mais
Amar e mudar as coisas
Amar e mudar as coisas
Me interessa mais

Um preto, um pobre
Uma estudante
Uma mulher sozinha
Blue jeans e motocicletas
Pessoas cinzas normais
Garotas dentro da noite
Revólver: cheira cachorro
Os humilhados do parque
Com os seus jornais

Carneiros, mesa, trabalho
Meu corpo que cai do oitavo andar
E a solidão das pessoas
Dessas capitais
A violência da noite
O movimento do tráfego
Um rapaz delicado e alegre
Que canta e requebra
É demais!

Cravos, espinhas no rosto
Rock, Hot Dog
Play it cool, baby
Doze Jovens Coloridos
Dois Policiais
Cumprindo o seu duro dever
E defendendo o seu amor
E nossa vida
Cumprindo o seu duro dever
E defendendo o seu amor
E nossa vida

Mas eu não estou interessado
Em nenhuma teoria
Em nenhuma fantasia
Nem no algo mais
Longe o profeta do terror
Que a laranja mecânica anuncia
Amar e mudar as coisas
Me interessa mais
Amar e mudar as coisas
Amar e mudar as coisas
Me interessa mais


Eu Sou Egoísta
Raul Seixas

Se você acha que tem pouca sorte
Se lhe preocupa a doença ou a morte
Se você sente receio do inferno
Do fogo eterno, de deus, do mal

Eu sou estrela no abismo do espaço
O que eu quero é o que eu penso e o que eu faço
Onde eu tô não há bicho-papão
Eu vou sempre avante no nada infinito
Flamejando meu rock, o meu grito
Minha espada é a guitarra na mão

Se o que você quer em sua vida é só paz
Muitas doçuras, seu nome em cartaz
E fica arretado se o açúcar demora
E você chora, cê reza, cê pede, implora

Enquanto eu provo sempre o vinagre e o vinho
Eu quero é ter tentação no caminho
Pois o homem é o exercício que faz
Eu sei... sei que o mais puro gosto do mel
É apenas defeito do fel
E que a guerra é produto da paz

O que eu como a prato pleno
Bem pode ser o seu veneno
Mas como vai você saber sem tentar?

Se você acha o que eu digo fascista
Mista, simplista ou antissocialista
Eu admito, você tá na pista
Eu sou ista, eu sou ego
Eu sou ista, eu sou ego
Eu sou egoísta, eu sou
Eu sou egoísta, eu sou

Por que não



Robot
Patrulha Do Espaço

Eu só queria tocar numa banda de Rock'n'Metal
Mas minha vida me dá um tapa
Jogou meu sonho na lata

Isso é a vida, mas eu sou de metal
Isso é a vida

Só que eu não sou
Eu não sou robot
Eu não, não sou
Eu não sou robot
Robot

O sistema te põe contra a parede
Televisão na sua frente
O seu futuro já está programado
Você é um número e foi escalado

Só que eu não sou
Eu não sou robot
Eu não, não sou
Eu não sou robot

Pode explodir a sua bomba atômica
Que eu vou ficar tomando agua tônica
A vida é curta e eu não vou matar
Fique sabendo que eu sou de metal

Isso é a vida, mas eu sou de metal
Isso é a vida

Só que eu não sou
Eu não sou robot
Eu não, não sou
Eu não sou robot.

Gyroscopio 69 - O Retorno


Depois de dois anos retorno ao webradio, através da AS Brazil, do amigo Wladimir de Paula. Como sempre, muito Rock, Poesia e ... Tosse. As 8 da noite. Espero você por lá.


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